Chamada de artigos para a composição do Dossiê Especial: “Memórias do Regime Militar no Brasil e uma Justiça de Transição Inacabada: vozes, propostas, estudos”.

Depois de um período de reorganização da memória dos diferentes setores da sociedade sobre o Regime Militar no Brasil – entre 1964 e 1985 –, importa-nos continuar, persistir ou retomar os estudos e as publicações em resposta às perguntas pelas novas estruturações mnêmicas que se fazem candentes. Embora a “memória social” não se confunda com a História – conforme é corrente compreender entre os historiadores, e, por conseguinte, exista, de per si, de maneira “autônoma” e “orgânica”, interessa-nos perceber as rupturas, as desconstruções, as descontinuidades e as reorganizações dos seus fios condutores. Reconhecidamente, os governos brasileiros engendraram uma “justiça de transição” tardia e inconclusa; em certos aspectos, a “justiça de transição” no país ocasionou frustrações em termos de negociações como “ajeites”, consecuções como “pesquisas realizadas” e resultados como “respostas” aos empenhos de parte da sociedade civil. No entanto, o trabalho da Comissão Nacional da Verdade e de outras comissões – merecedor de avaliações, de análises, e, por lógico, de críticas – demarcou um “tempo de memória” entre os anos de 2012 e 2014 (trata-se de uma memória maior em fase de “realinhamento”).
Decorridos mais de 50 anos do golpe civil-militar que instaurou o Regime Militar no Brasil, estimulamos, outrossim, a comunidade acadêmica à submissão de textos para publicações possíveis no Dossiê Especial: “Memórias do Regime Militar no Brasil e uma Justiça de Transição Inacabada: vozes, propostas, estudos”, na Revista Poder & Cultura, realizada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) pelo Laboratório de História, Cinema e Audiovisualidades (LHISCA). Para a composição do Dossiê, estudos sobre o Regime Militar em seus mais variados aspectos – sociais, econômicos, culturais, entre outros, são bem-vindos, bem como as novas avaliações historiográficas da contestação à ditadura militar como “oposição ética”, como “desobediência civil” ou como “resistência política”. Da mesma forma, as novas análises do “modus operandi” do aparato informativo-repressivo – em seus mais diversos órgãos de atuação – são desejáveis para a composição do Dossiê. Experiências e histórias de vida, de traumas, de dramas e de tramas podem estimular a polissemia pretendida no Dossiê, pois, seja por meio de entrevistas, ou com fulcro em “documentos regulares”, entre outros aportes documentais, almejamos dar ouvidos às narrativas e às memórias de sofrimentos, de tortura, de exílio, de rupturas, de ausências e de retornos. As novas histórias sobre os movimentos sociais e com abordagem de gênero são apreciáveis para o Dossiê. Ulteriormente, importa-nos avaliar textos que contemplem as recentes concepções sobre a “justiça de transição” no país a partir de diferentes noções a respeito da CNV ou de outras comissões de verdade, assim como de iniciativas diversas dos governos ou de parte da sociedade civil. Esperamos pela contribuição dos pesquisadores dedicados às antigas e às novas abordagens sobre uma temática sempre vívida na produção historiográfica realizada no contexto de frágeis contornos democráticos no Brasil da “Exceção”, no Brasil da “Regra”.
Prof. Dr. Leandro Seawright Alonso – Universidade de São Paulo, USP.

Profa. Dra. Marta Rovai – Universidade Federal de Alfenas, UNIFAL.